quinta-feira, novembro 01, 2007

[109 / Can Technology Help?]

Eu no meu caminho. Tu no mesmo caminho, seguindo no sentido inverso, evidenciando escassos sinais de ausência de sobriedade. Ambos rodeados pelos respectivos “grupos”.
Cruzamo-nos e a minha atracção faz com que olhe para trás e ainda consiga registar visualmente o teu comportamento mal sucedido.
Tenho pena de não teres chegado a conseguir tocar-me nas costas.

(E espero que leias isto)

[108 / Writing, At Last, Because Of A Beautiful Moment]

Há alturas em que nos perguntamos porque nos encontramos num dado local em determinado momento, quando poderíamos ter enveredado por uma outra opção. Há alturas em que começamos a ter certezas quanto ao erro cometido aquando da nossa escolha entre as várias opções. Há alturas em que o regresso a casa constitui uma confirmação do fracasso das nossas expectativas ilusórias, criadas horas antes. Mas há alturas em que o mais pequeno dos gestos pode inverter toda esta lógica; até mesmo durante o derradeiro momento final.
O próximo post é exemplo disso.

terça-feira, agosto 14, 2007

[107 / No Title For This One]

Às vezes irrito-me com a autonomia das pessoas.

domingo, junho 24, 2007

[106 / Summer Solstice]

Apesar da banalidade das actividades com que, os seres que te podem apreciar, aproveitam o tempo de vida que lhes forneces, és um dos meus dias favoritos do ano.
Personificas o apogeu da existência, nesse teu tão característico rasgo de claridade que se estende nobremente para além dos limites aceitáveis dos costumes radicalmente conservadores de algumas vidas gastas (ou perfeitamente aptas para seguir esse caminho) e vincadas pelo tradicionalismo. Esse teu grito de luz transporta a mensagem de que a vida é um continuum a que não se devem impor os constrangimentos de horários que outrora alguém teve a possibilidade de demarcar para as gerações futuras que não chegou a conhecer.
Todos os anos lhes gritas para abolirem essa construção social. Todos os anos eles não ligam à tua plasticidade, preferindo o seu próprio entorpecimento de saberem o que os espera amanhã, na semana seguinte, nos meses subsequentes e nos anos posteriores.


(Dedicado a todas as pessoas embriagadas pela rotina)

sábado, maio 26, 2007

[105 / Fly Higher, Fall Deeper]

Há segundos no espectro temporal das nossas vidas que podem ser ocupados em actividades emocionais fascinantes.
A nobreza de uma experiência de ponto máximo só pode ser equiparada à glória do momento de lucidez que faz desabar a ilusão e nos leva a encarar a crua realidade em todo o seu esplendor, oferecendo-nos uma viagem gratuita ao mundo da depressão.
São duas versões opostas que implicam os mesmos níveis de actividade intelectual e emocional.

terça-feira, maio 22, 2007

[104 / A Gradual Construction]

Este é o dia no qual começo a desenvolver uma actividade há muito esquecida por mim: seleccionar e ordenar palavras. Um gesto que, talvez num dia longínquo, se possa vir a traduzir num objecto chamado "livro".

terça-feira, maio 08, 2007

[103 / The Broad Span Of The Human Possibilities]

Deste lado da parede de um prédio escreve-se em silêncio no computador.
Do outro lado da parede não.
A infantilidade em corpos adultos deixa-se mostrar.
Bebe álcool.
Faz sons guturais.
Interage com outros seres humanos em estado infantil.
Regorgita palavras de intelectualidade incandescente, alimentando a discussão neo-filosófica existente entre eles: “Ó filha dá putá. Hehehe.”, “Parece um chupa-cabras. Hehehe.”, “Vai pó cárálho, ó filha dá putá”.
Silêncio.
A campainha toca repetidamente.
Silêncio.

A questão da diversidade humana. Uma vez mais.

domingo, maio 06, 2007

[102 / Fallen Arms]

(Parte 1)
Na busca por sermos bons em toda a nossa globalidade, sempre que as conversas se debruçam sobre aspectos em que temos pouca (ou mesmo nenhuma) competência/experiência, ficamos com uma noção das nossas limitações a esse nível.
Mas há falhas que podem ser colmatadas. Outras não.
Ah, como eu gostava de poder participar naturalmente nessas conversas; poder dar contributos pessoais; sentir emoções durante os momentos em que as possibilitam e poder descrevê-las. Ah, como eu gostava de deixar de ser o mero ouvinte com um sorriso que esconde o desejo de passar a ser o orador.
Um mundo desconhecido para mim… E quantas vezes desejei que assim não o fosse… E a esmagadora certeza de que esta será uma constante na minha vida…

É o todo que não pode ignorar a parte. É a parte que controla o todo. É o todo que se submete à parte. É a parte que abate o todo.

(Parte 2)
(Somewhere else)

sexta-feira, abril 20, 2007

[101 / I Want To Be An Expander, Not A Filler]

Há poucos meses tive uma conversa com uma amiga. Ela disse que andava a escrever uma história em co-autoria. Perguntei-lhe qual o tema da história. Tinha a ver com mundos fantásticos. Algo que raramente me desperta o interesse.
Foi com o desenrolar da discussão que obtive um insight quando ela me disse “Para quê escrever sobre este mundo que já conhecemos?”.
Acho que foi nesse momento que comecei a achar que uma pessoa interessante é alguém que tenta construir um novo ponto de vista sobre a realidade a que já nos habituámos. Alguém que explora e aprofunda esse desvio à rotina tão bem preenchida pelas massas. Alguém que procura difundir versões alternativas à banalidade, em vários aspectos das nossas vidas.

quarta-feira, março 21, 2007

[100 / Happiness Enhancer?]

Não me reconheço.
O meu mundo interno e o meu mundo social eram caóticos quando reingressei neste ano lectivo; hoje vejo esses dois mundos revestidos a ouro. O que mais me surpreende é a continuidade temporal que une estas duas perspectivas antagónicas sobre a realidade. Houve uma sequência transformacional tão lógica e progressiva, que só muito recentemente me apercebi do quanto mudei ao longo destes meses. Talvez o principal despoletador do boom se tenha dado nas vésperas da entrada neste ano de 2007, tempo no qual me dediquei a uma introspecção quanto à relevância das minhas interacções com as outras pessoas que me rodeiam. Foi aí que me apercebi que era tempo de me deixar de queixar silenciosamente acerca da superficialidade das conversas que estabelecia com o mundo, guardando exclusivamente para mim os momentos de seriedade profunda. Era a hora de deixar transbordar grande parte dos aspectos parcialmente invisíveis que me compõem.
Olho para o meu passado e vejo diferentes versões de mim, que tiveram o seu tempo de duração. Versões que nem sempre foram adaptativas e me trouxeram sofrimento. Versões que nunca deveriam ter desaparecido, devido aos efeitos benéficos que me proporcionaram. Versões que combinaram detalhes positivos e negativos de outras versões. Versões intencionalmente construídas. Versões impostas externamente. Versões que me obrigaram a aliviar o sofrimento interno, através da escrita (como é estranho ter visto que por vezes era obrigatório recorrer ao pressionar de teclas numa sequência específica de modo a atenuar a situação caótica e auto-destrutiva deste meu mundo interno). Versões que me fizeram sentir feliz (infância, tenho saudades tuas). Versões que me tornaram um mero fantoche na multidão. Versões que me levaram a um local onde nunca vi outro ser humano chegar, e me fizeram ter uma consciência aguda do quão independente eu conseguia ser face à massa populacional. Versões (prolongadas) nas quais eu habitualmente me silenciava/anulava, em prol da manifestação verbal e não-verbal de todas as outras pessoas (essas outras pessoas, ao verem-me sempre calado, partiam do princípio que nada de interessante poderia advir de mim). Versões que me deram a possibilidade de saborear experiências de ponto máximo. Versões recentes nas quais uma mera subida de escadas podia ser uma actividade psicologicamente desgastante (é, e será certamente desgastante para qualquer indivíduo, sempre que um turbilhão complexo de pensamentos o invadir). Versões que me faziam ter consciência do tempo que desperdiçava sem haver nada de relevante para registar nas minhas memórias de auto-realização (ou mesmo de auto-estima). Versões nas quais a proximidade física não tinha associação com a proximidade afectiva.
E eis que me deparo com uma nova versão; uma que deveria ter uma longevidade considerável, dado que concilia bastantes aprendizagens e muitos dos aspectos positivos de versões anteriores. Uma versão que engloba os meus novos insights completamente refrescantes e que me trazem um novo ponto de vista nesta habitual observação do mundo. Subscrevo agora uma visão compreensiva, diferente daquela que já tinha adquirido. Talvez seja uma visão compreensiva mais sofisticada, que analisa apaixonadamente a infinidade de possibilidades humanas. É bom ver que certas competências que eu pensei que estivessem já aniquiladas, afinal ainda sobrevivem dentro de mim.
São vários os insights que me assolaram ao longo dos últimos tempos, provenientes da minha presença nas aulas e da observação de comportamentos:
_ especificidades nos conteúdos aprendidos em Psicologia da Aprendizagem;
_ especificidades nos conteúdos aprendidos em Introdução às Neurociências I;
_ especificidades nos conteúdos aprendidos em Genética e Evolução;
_ especificidades nos conteúdos aprendidos noutras cadeiras que frequentei
(talvez com menor intensidade);
_ globalidade procurada por cada indivíduo;
_ tempo dispendido em enriquecimento pessoal;
_ inteligência afectiva e inteligência de auto-estima;
_ minimização da alteridade e consequente reformulação da interacção com outras pessoas;
_ seres humanos como portadores de um sistema de crenças modificáveis
.

Explicar o contributo de cada um destes insights seria um grande desafio, e talvez um dia eles venham a ser tema de futuros posts. Uma conversa produtiva acerca destes assuntos seria igualmente enriquecedora e teria a vantagem da interactividade em tempo real.
É a integração de todos estes insights que me está a transportar até uma posição muito específica. Um ponto nunca atingido por mim antes. A exploração de uma multiplicidade de histórias de vida com validade equitativa tem agora novos contornos. Espero conseguir manter-me assim durante muito tempo. Espero resistir ao cinzento da estrutura quotidiana (porque apesar de eu ter mudado, o mundo parece estar igual; será uma questão de tempo até voltar a ser confrontado com a discrepância entre a fluidez da minha modificação interna e a lentidão da modificação externa).
E a questão fulcral: porque é que só ao fim de vinte e dois anos é que finalmente consegui chegar a este estado?

[99 / Question & Answer]

Outra pergunta interessante formulada pela Alanis, este mês:
If you could say one thing and the whole planet would be listening, what would you say?”.

A resposta que enviei:
"I would say: 'don’t ever silence a compliment you really want to give to someone as they will be glad to know you have a positive opinion on something about them; a new compliment is never too much'”.

[-- / Heard Quotes (To Be Filled From Time To Time)]

“A paixão consome-nos muita energia. É por isso que não conseguimos estar permanentemente apaixonados.”
(Professor de Psicologia da Aprendizagem)

“Uma pessoa com personalidade narcísica sente-se invulnerável.”
(Professor de Psicologia da Personalidade)

"O grave problema é quando uma pessoa com sintomas de personalidade narcísica de repente se apercebe que é tudo menos invulnerável. Aí, desperta-se-lhe o caos interno e o modo de auto-destruição.”
(João Gil Martins)

"Por vezes temos aprendizagens implícitas que nada têm a ver com as aprendizagens objectivas de quem nos ensina naquele momento."
(Professor de Psicologia da Atenção e Memória)

“Há pessoas nesta sala que são certamente sobreviventes de diversas situações de risco."
(Professora de Impacto Psicológico da Adversidade)

"As pessoas são diferentes. As relações que daí resultam também são diferentes. É por isso que o colorido é diferente quando temos um novo relacionamento com outra pessoa.”
(Professora de Intervenção Individual 2)

"Amamos uma pessoa de cada vez, mas várias ao longo da vida... São monogamias sucessivas."
(Professor de Sociologia da Saúde)

"Só nos matamos uns aos outros em teoria. Se nos matassemos na prática, já não haveria pessoas no mundo."
(Encenador do curso de introdução às técnicas teatrais)

"A vergonha é uma emoção altamente destrutiva."
(Professora de Impacto Psicológico da Adversidade)

"As nossas vidas não são um filme... ...yo!... Baza. Vai para casa. Baza, vai para casa."
(Professor já citado)

"Há mortes mais serenas que determinados processos de vida."
(Professora Clara Oliveira, oradora de uma conferência sobre "Vida, Sofrimento e Morte")

"A morte só é desejada por reforço negativo: ela acaba com o sofrimento."
(Professora de Psicopatologia do Adulto)

"Todas as relações são estáveis... enquanto duram."
(Professor José Cruz, orador de uma tertúlia sobre "Sexo e Desporto")

"Adaptação promove adaptação. Desadaptação promove desadaptação."
(Professora de Prevenção em Saúde Mental)

"Jogamos a lotaria dos genes e temos de acomodar-nos com o que vem."
(Professor de Intervenção Organizacional)

"A credibilidade ganha-se por aquilo que alguém é."
(Professora de Psicopatologia do Adulto)

"Fazemos o melhor que podemos num dado momento, mas por vezes até esse melhor é muito mau."
(Professora de Psicopatologia do Adulto)

"As pessoas escondem parte dos seus problemas por não saberem se nós somos dignos de ser o depósito deles."
(Professora de Psicopatologia do Adulto)

"Aparecemos na vida uns dos outros por acaso."
(Professora de Psicopatologia da Criança e do Adolescente)

"Temos de ter cuidado com quem casamos, até porque pode ser algo para toda a vida..."
(Professora de Psicopatologia da Criança e do Adolescente)

sábado, março 03, 2007

[98 / Save Your Love For Someone Who Can Share It Back]

Uma pequena nota para mim (talvez assim não volte a esquecê-la): não voltes a apaixonar-te pelas pessoas certas que não o são em aspectos fulcrais.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

[97 / Our Self-Trapped Brains Which Tendencially Just Show The Superficial Part Of Themselves, Ending Up Meeting Repeatedly The World's Boredom]

Imagino-te. Sobrevalorizo-te. Idealizo-te. Sonho-te. Reforço-te. Enalteço-te. Profetizo-te.
Procuro-te.
Desencontro-te.

Não existes no meu mundo social. Não te sei ver. Não te sei ler. Não te sei.
Existes no meu mundo social? Então porque não te vejo? Porque te escondes? Porque não me conheces? Porque não tens acesso à minha essência? Porque sucumbimos ao terror da solidão emocional?
Não existes no meu mundo social. Apenas no meu mundo imaginário; naquele mundo em que as facilidades são uma constante e o festival rotineiro da proximidade física em contingência com a distância emocional é abolido impiedosamente; naquele mundo tão silencioso e intransmissível que facilmente se evapora quando sente a presença da curiosidade irresponsável do mundo externo.

Evaporo-te. Condensas-te. Quero solidificar-te. Gaseificas-te.
Ambos peões neste jogo da supressão do íntimo.
Um exercício de vazios.

Tento conformar-me à tua presença etérea frágil; à tua inexistência no mundo dos lábios que se tocam, dos olhos que se humidificam, das respirações que se aceleram, dos cérebros que se inundam de serotonina.

Não existes no meu campo visual. Ou será que existes?
Alcanço-te? Ignoro-te? Venero-te? Afasto-te?
Perguntas sem resposta.

Tens tanto para oferecer(-me). Será tão pouco o que verei.
O que verás de mim? O que verei de ti? Apenas o teu movimento: aquilo que o teu cérebro me irá mostrar; aquilo que irás ver de mim; aquilo que os nossos sistemas nervosos mostrarão ao mundo, ignorando as consequências nefastas de guardarem para si próprios a actividade mental que nos permitiria descobrir a beleza da nossa consistência.
Tanta actividade cerebral nobre posta em prática e no entanto apenas uma parte banal é deliberadamente exteriorizada.

Quando te encontrarei, cérebro sublime? Quando te mostrarás na tua globalidade?

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

[96 / Frustration #2]

Involuntariamente faço parte do grupo maioritário dos resultados deste referendo. Sim, fui forçado a integrar a percentagem da abstinência.
A indisponibilidade não-crucial dos meus pais para me transportarem de Braga a Viana (após um concerto cansativo que me impediu de me ajustar aos horários dos transportes públicos domingueiros) é algo que nunca esquecerei. Algo que não será facilmente desculpável. O embaraço é mais notório ainda, sendo eu um ex-estudante de Sociologia.
Espero que esta seja a única mancha no meu “currículo político” como cidadão activo no processo de mudança de uma população que gosta de criticar exaustivamente todas as coisas que observa e que aprecia a lentidão extrema da evolução das mentalidades neste canto geográfico.

Pelo menos ninguém me impediu de aplaudir e de sentir um arrepio de alegria quando vi que o “Sim” ganhou.
Queria tanto que o meu voto tivesse sido contabilizado...

[95 / Frustration #1]

Regresso de uma viagem cansativa. Fui ver o primeiro dos concertos dos Nine Inch Nails. A expectativa deu lugar a alguma desilusão. O concerto foi, na sua maioria, um exercício de restrição física e psicológica.

Vários são os motivos (exponho alguns deles):
_ a subversão das minhas expectativas quanto aos fãs; esperava deparar-me com maiores níveis de sensibilidade e sofisticação (fui brindado com fãs que acham natural ir assistir a um concerto de Nine Inch Nails enquanto envergam t-shirts de outros grupos musicais);

_ a agressividade pronta a ser posta em prática por algumas das pessoas que estavam no recinto (Não chegamos à primeira fila? Oh, daqui a bocado, quando isto começar e o R. começar a dar pontapés, chegamos à primeira fila e ninguém nos tira de lá!);

_ a fluidez com que nós (fantoches, ou “pigs”, tal como o Trent Reznor legitimamente nos chamou) nos movíamos involuntariamente ao sabor dos empurrões e crowdsurfing dos fãs mais “fuck it, I don’t give a shit”; a minha atenção tanto dava primazia ao concerto como ao meu próprio equilíbrio;

_ a impossibilidade quase permanente de observar o Trent durante uns dez segundos sem ter uma cabeça de alguém mais alto a bloquear-me o campo de visão (e eu estava na terceira fila em frente ao palco…);

_ serem tocadas demasiadas músicas que incentivavam o baixo limiar de euforia dos fãs mais expansivos (quanto mais barulho, melhor); a setlist poderia conter, a meu ver, músicas mais recentes e dignas de serem ouvidas em exibição ao vivo (houve pérolas que não foram incluídas; tinha previsto uma “Right Where It Belongs” mágica e intensa, mas ela nem sequer existiu naquela noite);

_ a beleza dos efeitos visuais presentes nos concertos americanos não marcou presença no concerto português.

Muito provavelmente algo nos unia a todos os que lá estávamos: a vivência presente ou passada de uma perturbação depressiva major e a aceitação do “conforto” que as letras e a música acabam por dar. Mas para além da grande probabilidade da existência desse aspecto comum, cada vez mais me convenço de que mais ninguém foi exactamente pelos mesmos outros motivos que eu.

Não sei até que ponto o Trent se sente representado por esta amostra de fãs que não se importa em dar um maior fôlego a quem gosta de entiquetar os estilos musicais… Porque aquilo a que eu assisti não foi a obra de um génio ser elevada até ao posto que lhe está reservado. O que eu vi foi uma reprodução ao vivo do rock que existe na memória de qualquer pessoa que já tenha assistido a um concerto desse estilo musical (nem que seja através dos media). E o Trent diz “I don't even like rock that much…”. Então porquê um concerto de rock? Havia tanto por onde escolher para a setlist. Porquê escolher o caminho mais fácil e mais despoletador de euforia nos fãs que o admiram por ser mais um facilitador de headbangs?
Talvez um dia venha a sabê-lo…

domingo, janeiro 28, 2007

[94 / From The Macro Apathy To The Micro Sublimity]

Sinto-me fascinado por saber que finalmente posso ventilar as minhas experiências internas.
Decapito a ideia de que a qualidade no seu estado puro é incongruente com a proximidade geográfica. Volto a ter esperança na minha geração.
Encontrei um sistema nervoso que reside nos píncaros da busca incessante pela realização! Que coerência! Que metodologia! Que competência! Que sensibilidade! Que nobreza!

Não costumo gostar de recorrer a citações (fazem-me sentir um mero reprodutor das palavras que alguém forjou, por muito que me reveja no conteúdo das palavras transcritas), mas acho que a pertinência do refrão desta música (cuja letra me representa a um nível de 99%) é gritante:

“I can feel so unsexy for someone so beautiful/
So unloved for someone so fine/
I can feel so boring for someone so interesting/
So ignorant for someone of sound mind”
.
(Alanis Morissette, “So Unsexy”)

sábado, janeiro 20, 2007

[93 / Crash]

A batalha entre o interno e o externo parece não ter fim.
Por muito que nos esforcemos por ser melhores pessoas, a intensidade com que exercitamos o pensamento quase nunca é assinalável aos olhos dos outros. O conteúdo das nossas ideias nunca transparece para o exterior, a não ser que façamos algo que realmente seja observável.
Não poder ser transparente quanto aos meus pensamentos é algo que me incomoda. De certa forma acabo por reproduzir o padrão sufocante da superficialidade das relações sociais que com tanta destreza nos entorpecem e nos limitam o acesso à felicidade. Tenho pena por ainda não saber destruir essa limitação. Acho que é claramente um dos aspectos que tenho de trabalhar nos próximos tempos. Mas ao mesmo tempo torna-se difícil. Há dias em que ainda me parece Natal, mas o desânimo vem quando me cruzo com as caras que a minha memória reconhece e me indica que devo retribuir o cumprimento e o sorriso formal enquanto os meus pés continuam a levar-me até ao caminho que tinha traçado previamente. Os outros não notam absolutamente diferença nenhuma em nós nesse momento particular.
Penso nesta questão porque há poucos dias aconteceu-me algo de inédito enquanto estava numa fila de uma cantina universitária. Seríamos quatro pessoas a partilhar a mesma mesa naquele jantar. Por diversos motivos acabámos por inserir-nos na fila heterogeneamente. Pego no tabuleiro e no resguardo. A fila avança. Nos talheres. Avanço. No pão. Avanço. Na mousse de chocolate. Avanço. Encho o copo com sumo de laranja. Chegam à fila as duas últimas pessoas que partilhariam o jantar comigo. Constatavam que como já não nos viam na fila, teríamos já indo para a mesa. Uma delas referiu “O J. deve estar com tanta fome que já subiu. E o outro?”. Eu era o outro. Numa questão de segundos a minha existência era reduzida à insignificância de alguém sem nome. Não tinha a dignidade de ter uma associação a algo de palpável. Era feito de uma consistência efémera e irrelevante. E foi então que pensei nesta questão da invisibilidade do peso dos pensamentos que me percorrem o cérebro. No quão frágeis eles são. No quão débeis são, por não terem a capacidade de se transporem para o mundo que partilho com a humanidade que me rodeia. A convicção, as ideias, o turbilhão que apenas invade um único ser humano. Um único ser humano. No quão fácil é falar levemente sobre selves alheios, sem haver noção do funcionamento interno deles. No desrespeito.
Estes pensamentos prolongar-se-iam durante mais alguns segundos, mas aconteceu o impensável. Desbloqueei-me ao ver que o meu tabuleiro se movia, deixando-se levar pela verticalidade. As minhas expectativas das leis da Física estavam a ser violadas. Não ouvia som. Parecia que aquilo não estava a acontecer. Mas estava. Confirmei isso enquanto observava imóvel a trajectória do tabuleiro até atingir o chão e fazer um estrondo. Os pés das pessoas que estavam ao meu lado deram um salto e viraram-se para o tabuleiro. Na minha mão ainda permanecia o copo. Intacto. Nem uma gota de sumo desperdiçada. Apenas a mousse de chocolate teve como destino ser limpa por uma funcionária de olhar cúmplice em vez de ser ingerida por mim.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

[92 / Auto-Pilot]

Há (muitos) momentos em que gostava que os meus dedos fossem conduzidos por forças invisíveis e me fizessem carregar nas teclas que me levassem ao lugar mais relevante de toda a Internet.

domingo, janeiro 14, 2007

[91 / Interesting]

Nunca o conceito empírico de pre-committment tinha feito tanto sentido. A sua aplicação ao mundo quotidiano é realmente poderosa.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

[90 / Music To My Ears]

Novo objectivo: ter aulas de Filosofia da Existência.