quinta-feira, março 30, 2006

[45 / Throwing Pigs To Pearls]

A minha propensão para relaxar era enorme.
Peguei numa cadeira, pu-la na varanda e sentei-me a apanhar sol enquanto ouvia música.
Não levou muito tempo para que me abstraísse do local onde me encontrava para ir de encontro ao significado das palavras inglesas que ouvia melodicamente. Só o vento frio e intermitente parecia querer trazer-me de volta para a realidade.
Num desses regressos vi que uma mulher estava na varanda do seu apartamento, uns prédios mais à frente. Estava de pé, com a mão no corrimão da varanda e a olhar em frente. Quis saber que paisagem estaria ela a ver. Nada… Não havia nada de especial na paisagem para que ela ficasse a admirá-la durante muito tempo.
Foi então que dei por mim a fazer o processo inverso: olhar-me através da varanda dela. A minha paisagem era exactamente a mesma (a única diferença era o ponto de vista): um festival de tijolos, cimento, tábuas de madeira, areia, andaimes, ferro, uma grua, poças de água suja e outras coisas feias que estão destinadas a fazer parte integrante de um novo prédio bracarense cujos apartamentos serão vendidos a preço de ouro.
Perante um cenário destes é quase ilegítimo termos prazer em estar numa varanda para nos abstrairmos. Dei por mim a cair na realidade: quantos de nós têm de se limitar a viver em caixinhas feias e padronizadas, independentemente da pessoa que somos, dos ideais em que acreditamos, das aspirações e objectivos que temos?... É a isto que se chama viver numa cidade? Será este o sonho urbano?

quarta-feira, março 29, 2006

[44 / Simple Questions, Hard Answers]

Porqué é que é mais fácil aprender a desconfiar do que a confiar?

Porque é que é mais fácil criticar do que elogiar?

Porque é que é mais fácil o processo de distanciamento entre duas pessoas do que o de conhecimento mútuo inicial?

sábado, março 25, 2006

[43 / (Not) Together]

Algures neste planeta está a pessoa por quem sempre ansiei.

És capaz de me estar a procurar neste momento, mesmo sem me conheceres. Olhas em volta mas só vês fontes de desinteresse perpétuo (pelo menos para a especificidade subjectiva dos teus gostos).
Aprisionado pela distância geográfica, eu sinto-me impotente por não poder estar aí e conseguir estabelecer a minha influência periférica. A difusão mútua das nossas influências seria tão intensa que nunca se apagaria das nossas memórias e a sentiríamos sem precisarmos de cientistas para o comprovar.

Mas vamos morrer sem nunca nos vermos. Nunca terei a imagem precisa do teu rosto. Nem tu do meu.
No entanto temos a perfeita noção de que existimos. Somos a melhor fusão que a contemporaneidade nos conseguiu arranjar.

Penso em ti a conformares-te lenta e sequencialmente às três leis que se abatem sobre todos nós. A que ser humano incompatível darás o privilégio da tua entrega?

Agora _ Eis o filtro supremo que nos limita à nascença a miríade de potencialidades amorosas. Somos obrigados a fazer a nossa selecção no âmbito da população que vive o escorrer dos nossos dias. Quem me garante que nascerá daqui a um século a personalidade que mais fascínio traria ao meu cérebro? E quem me garante que ela afinal já morreu há séculos? Terá morrido no dia em que eu nasci? Nascerá no dia em que eu morrerei?

Aqui _ O filtro que nós já conseguimos manipular, ainda que de forma muito rudimentar. Na contemporaneidade que nos invade, existirá certamente alguém que sobressai. Essa pessoa pode nem chegar ao nível impressivo obtido por “concorrentes” que a História se encarrega de nos desencontrar, mas é a ideal por entre toda a gente actual no planeta. Qual a distância a percorrer para a encontrar? Que nação defenderá? Que língua e cultura impregnam os seus pensamentos? Poderíamos viajar incansavelmente e no entanto as hipóteses de não a tocar com os olhos são estatisticamente significativas e desanimadoras.

Disponível _ O fosso em que todos caímos. Provavelmente apenas uma fatia microscópica da população mundial evita esta lei. Provavelmente essas pessoas felizes são as que preenchem hoje as lendas que percorrem as bocas do mundo. Provavelmente esses deuses e deusas mortais souberam desde o primeiro olhar cúmplice que tinham escapado às três leis, especialmente gratos por não se submeterem à infelicidade causada pela aleatoriedade intransigente da lei “agora”. Provavelmente. A lei da disponibilidade traduz-se no conformismo puro. Conformismo por nos adaptarmos às pessoas que nos rodeiam. Não ao nível da amizade, mas ao nível do amor cego e verdadeiro. Como é fácil sermos subjugados à comodidade entorpecedora desta lei. Como é fácil sucumbirmos à felicidade não-extrema. Acata-se o facto de vermos alguém minimamente interessante que passa em frente ao nosso olhar [que não deixa (nem deixará) de procurar saciar-se] e imaginamo-nos a viver com ela. Pessoa interessante? Sim! Com ligações significativas com outrem? Não. Sim. Talvez. Então procuramos entrar em cena. Seja antes do início do primeiro dos romances, ou depois do mais recente divórcio. Ascendemos na hierarquia e pensamos erradamente que a cada passo que damos, atingimos o pico. A passagem do tempo acabará por nos confirmar o que recusamos ver inicialmente. Fazemos tudo isto, completamente alheios (à excepção de alguns casos) ao pensamento que nos grita “Estás bem longe daquilo que poderias ter alcançado… Não sucumbas!”.

quarta-feira, março 22, 2006

[42 / Piece Of Provocation]

A minha mais recente ideia provocadora: ir em grupo para um bar e cada um levar os seus headphones (ligados a um leitor de cd's/mp3). Depois deixar o movimento corporal ser formatado palas batidas que cada um ouve.
Ver a dessincronização na dança, não só entre cada membro do grupo (já que cada qual está a ouvir a sua música), mas principalmente entre o grupo e a multidão que ouve a mesma música em conjunto.
Seria uma espécie de caos controlado.

Gostaria o dj de ver uma actividade deste teor?

domingo, março 19, 2006

[41 / Fact]

Se tivesse de pagar uma multa por cada vez que imagino a possibilidade de partilhar momentos íntimos com diferentes pessoas que me prendem o interesse, estaria falido.

[40 / Tonight]

Breve mas intenso. É como descrevo este momento em que esqueço a minha ideia recente de que o facto de não se partilhar um romance não é um estigma. Foi essa a minha principal aprendizagem implícita depois de me ter sentido fascinado por alguém que feriu e transferiu.
Hoje preciso de uma mão para segurar, de uns lábios para beijar, de uma mente para explorar, de um corpo para amar.
Deve haver mentes tão bonitas por trás de caras que me passam tantas vezes ao lado... E eu não sei ver quais…

terça-feira, março 07, 2006

[39 / Such A True Sentence]

"Se acreditas no amor à primeira vista, não pares de olhar."
(in Closer)

Porque neste aspecto funcionamos todos à base da "tentativa-erro".

segunda-feira, março 06, 2006

[38 / Carnival Without Masks]

Posso estar a fazer uma análise completamente desfasada da realidade, mas pelo que vi este ano, no Carnaval, só uma pequeníssima minoria se mascara para ir para os bares e discotecas.
Mas a maioria também não é composta pelas pessoas que se vestem de uma forma habitual. Não. A maioria compreende as pessoas que se fantasiam.
A noite de Carnaval é igualmente válida para datings, por isso não se pode desperdiçá-la com máscaras que nos impedem de mostrar quem somos fisicamente.
É por isso que recorremos às fantasias: conjuga-se a "liberdade" de sermos quem quisermos no Carnaval, com o aspecto utilitário que procuramos.

sábado, março 04, 2006

[37 / Her]

Houve uma altura em que achei que eras a rapariga mais interessante que tinha conhecido pessoalmente. Ainda hoje me questiono sobre isso.
Linda nos teus cabelos pretos e olhos azuis.
Linda na tua forma de pensar. Gostava das opiniões políticas que partilhávamos.
Houve uma noite em que fiquei a olhar para ti enquanto dançavas com os "nossos" caloiros. Naquele momento vi-te como merecedora do estatuto de princesa, mesmo que ele só perdurasse uma noite.

Hoje que já tens o teu príncipe, voltei a ter aulas contigo. Pareces ter sucumbido ao espírito que invade o teu (e o meu antigo) curso. Não ficaste sentada ao meu lado, mas mesmo assim ouvi os teus vários queixumes acerca dos conteúdos leccionados na aula. Porque o fazias atrevidamente? Porque "desrespeitavas" o professor dessa maneira? A matéria que ouvias tinha um teor neutro... Porque chamavas a atenção daqueles que te são próximos e estavam a escrever apontamentos demoradamente? Porque passaste também a intercalar os apontamentos com frases desnecessárias ditas aos que estão em teu redor? Estavas hiper-crítica e não encontrei fundamento para essa atitude. Assemelhavas-te a tudo aquilo que eu sempre vi como negativo na mente de qualquer cientista social, a tudo aquilo que transborda nas palavras proferidas pela maioria dos meus ex-colegas. Se te tivesse conhecido hoje, associar-te-ia a eles.

Mas já te avaliei assumidamente a personalidade: foste voluntária nesse moroso processo. Espero que o teu comportamento de hoje se reflicta numa personalidade-estado. Espero que a tua personalidade-traço não seja diferente daquela que mostraste ter nos momentos em que convivi contigo.

[36 / Boredom In Classroom]

Supostamente seria uma aula prática, mas não o foi.
No meu caso foi uma aula completamente desnecessária em que no espaço de quase duas horas absolutamente nada se fez...
Não quero fazer role-play em pares durante uma hora acerca dos mesmos casos...

Psicologia assim não. Não mesmo.