quarta-feira, dezembro 20, 2006

[89 / Poignancy (or) Releasing The Tormenting Ghosts]

“How to stay paralyzed by fear of abandonment?/
How to keep people at arms length and never get too close?/
How to mistrust the ones you supposedly love the most?/
How to pretend you’re fine and don’t need help from anyone?/
How to feel worthless unless you're serving or helping someone?/
How to keep smiling when you’re thinking of killing yourself?”

(Alanis Morissette, “Eight Easy Steps”)

Posso personalizar, Alanis?

Como apresentar Distimia, Perturbação Depressiva Major, Perturbação Aguda de Stress e Perturbação de Stress Pós-Traumático no currículo psicopatológico de uma história de vida relativamente jovem?
Como começar a pensar que na vida parece haver um equilíbrio (o tempo passado em momentos felizes será contrabalanceado com momentos infelizes de maior intensidade e duração)?
Como pensar erradamente que num cérebro a Distimia será a única perturbação em remissão completa?
Como ser um caso clínico de comorbilidade?
Como ser abandonado pela resiliência?
Como ouvir as mais corrosivas palavras de sempre?
Como constatar que essas palavras são de facto dirigidas a alguém que vemos constantemente em qualquer espelho?
Como associar essas palavras a uma pessoa completamente satisfeita com o impacto negativo que provoca?
Como ver a auto-imagem degradar-se numa questão de segundos?
Como sentir que se morre sentado numa cadeira de uma sala universitária enquanto se passam apontamentos a limpo?
Como sentir o coração a bater desenfreadamente devido à humilhação pública?
Como reparar que nesses momentos a tarefa de passar apontamentos com letra legível se torna impossível?
Como querer fugir daquele local?
Como permanecer sentado enquanto se ponderam os prós e contras das opções de não reagir, reagir com violência ou desaparecer?
Como pensar que a partir dali nunca mais se será a mesma pessoa?
Como reparar que as palavras corrosivas são partilhadas por outras pessoas, talvez devido aos processos de grupo?
Como permanecer fisicamente numa sala de aula, apesar do cérebro estar bem longe dali?
Como escrever “FALLING DOWN” num caderno preenchido por teorias sociológicas e ter uma amiga a perguntar o motivo para a redacção dessas palavras, não obtendo uma resposta conclusiva?
Como não saber se o regresso a casa é bom ou mau sinal?
Como chegar a casa, trancar-se na casa de banho e chorar ao som da música mais negativa que se consegue encontrar nesse momento?
Como não querer enfrentar o mundo no dia seguinte?
Como não conseguir deixar de pensar na escuridão que o futuro reserva?
Como querer escrever alguma coisa, independentemente do seu nexo, de modo a aliviar por breves instantes o sofrimento indescritível que se experiencia?
Como reparar na eficácia brilhante de se despoletar silenciosamente auto-destruição noutro ser humano?
Como relembrar a frase de um filósofo “toda a gente procura o bem-estar; mas e se eu não o quiser?” ouvida numa aula e aplicá-la à motivação cruel da autora das palavras corrosivas?
Como não conseguir esquecer a existência da pessoa responsável pelo surgimento dos pensamentos intrusivos, tendo a noção de que ela provavelmente já nem se lembraria naquele momento que a vítima ainda permanecia neste mundo?
Como tentar prever se o dia seguinte traria novos ataques psicológicos?
Como sentir que se está na corda bamba por não imaginar que se podia experienciar algo tão devastador?
Como não aguentar a pressão e ir à varanda avaliar a altura que a separava do chão?
Como respirar fundo enquanto se tenta processar um turbilhão de pensamentos?
Como precisar urgentemente de ajuda sem que ninguém o saiba?
Como afastar-se da varanda por se receber uma mensagem de uma amiga perspicaz a perguntar se está tudo bem, e responder-lhe que sim?
Como tomar a decisão de estabelecer uma meta de um mês de vida até voltar a reavaliar-se os desenvolvimentos dos episódios após esse dia?
Como voltar à casa de banho para chorar novamente?
Como permanecer lá dentro até ser hora de jantar, sair e ir sentar-se num sofá para se ir comer ao lado de um colega, disfarçando um sorriso enquanto se tenta ao máximo procurar distracções nas imagens exibidas pela televisão?
Como levar a primeira garfada à boca e sentir um vómito causado pelos nervos incontroláveis?
Como voltar ao refúgio da casa de banho?
Como sentir tremuras, abanões e náuseas?
Como tentar adormecer-se e não se conseguir fazê-lo?
Como mandar uma mensagem desesperada a um amigo e receber um relatório pendente?
Como pensar que não existe nada mais com relevância suficiente para libertar o cérebro dos pensamentos de auto-destruição?
Como não aguentar o silêncio nocturno e voltar a ligar a música até finalmente, ao fim de algumas horas, se adormecer?
Como acordar-se cedo demais no dia seguinte?
Como obter a confirmação de que nunca antes se tinha sentido tão vivamente o desmoronar da segurança do mundo dos sonhos e se acorda para o realismo intenso de um pesadelo?
Como caminhar até à universidade e esperar pela possibilidade da reexperienciação da humilhação sentado num banco à porta da sala de aula?
Como constatar com alívio que as pessoas envolvidas no acto de humilhação não comparecem na aula?
Como imaginar o sorriso sádico feminino que espera pacientemente para se manifestar no momento do primeiro reencontro?
Como sentir ódio e repúdio puro por parte de outro ser humano(?)?
Como perder grande parte das memórias do resto desse segundo dia, sexta-feira?
Como voltar à terra natal com a noção exacta de que nada mais faz sentido e que não se quer abandoná-la, mesmo que isso implique o sacrifício da ascensão profissional?
Como alegar cansaço quando umas das primeiras frases proferidas por uma mãe são “Que se passa? Sentes-te bem?”?
Como querer jantar com os pais e voltar a sentir vómitos?
Como ir para o quarto e saber que uma conversa urgente tida com o amigo da mensagem pendente é a única coisa que estagna a descrição do episódio traumático na presença dos pais?
Como saber que a realização dessa conversa iria desestabilizar permanentemente a coerência familiar?
Como pensar que o amigo específico será a única tábua de salvação possível, desabafar com ele, e vê-lo na melhor das suas intenções a recorrer à sabedoria popular da inutilidade do “tens de esquecer isso”?
Como constatar que se está envolvido neste sofrimento sozinho?
Como vir a saber meses mais tarde, que aqueles precisos dias traumáticos para a vítima foram dos melhores da vida desse amigo, por coincidirem com o início de uma relação íntima relativamente longa?
Como voltar a pensar nas frases “deixa lá isso/tens de esquecer isso” com ironia?
Como lidar com a ideia de que um pedido de ajuda explícito foi substituído por actividades de teor bem mais interessante?
Como achar que esta discrepância de vivências é tremendamente injusta?
Como não poder falar dos pormenores do evento traumático a mais ninguém?
Como passar a desconfiar das pessoas que dão sinais de ter uma atitude semelhante perante um pedido sincero de ajuda?
Como sentir que se caiu num buraco escuro de onde ninguém obtém ajuda para sair de lá?
Como tocar no fundo dos abismos e constatar que o seu chão é feito de areias movediças esfomeadas?
Como saber com desespero renovado que claramente não se esquece algo atormentador, e que o trauma poderá voltar a surgir novamente através de diversas formas inventadas pela dona do sorriso sádico?
Como pensar que provavelmente a repetição do episódio humilhante em frente a outros amigos, seria uma fonte inesgotável de prazer por parte dos perpetradores do episódio traumatizante?
Como bloquear com pensamentos deste cariz?
Como sucumbir perante a impotência e o terror?
Como constatar que os medos se podem tornar numa realidade observável?
Como abandonar a terra natal e voltar para junto da boca do lobo, numa segunda-feira fingindo que tudo está bem?
Como tremer ao saber da proximidade física dos carrascos?
Como vir munido de ajuda sonora e querer permanecer em casa o máximo de tempo possível, enquanto se gritam músicas de teor negativo existencialista?
Como sentir partilha do sofrimento reproduzindo as palavras do conteúdo musical, enquanto se está no chão a reexperienciar cognitivamente o momento traumático?
Como permanecer sentado numa banheira com a água quente ligada durante mais de uma hora e sentir-se morto?
Como misturar essa água quente com água salgada e sofrida?
Como sentir que há problemas que têm apenas uma solução irreversível, que culmina nas estatísticas de várias instituições públicas?
Como querer que a morte chegue depressa?
Como desejar ardentemente possuir uma arma e reproduzir um dos mediáticos massacres académicos americanos, mesmo que depois surja a etiquetagem errada de psicopatia?
Como sonhar com as várias formas de tortura, de modo a poder-se aplicá-las em prol do estabelecimento de algum sentido de justiça?
Como tentar pensar em maneiras de induzir o mesmo sofrimento psicológico nas personagens responsáveis pelo episódio traumático, para que pudessem ser brindadas também com o sabor da crueldade humana?
Como abandonar essas cognições e incutir no pensamento que a forma de vingança se limitará à dignidade de uma espera indeterminada até que a aleatoriedade da morte permita proceder-se à cuspidela no jazigo da dona do sorriso sádico (caso a longevidade seja maior para o caso da vítima)?
Como aguentar o pesadelo mórbido destes sintomas durante os intermináveis dias que compõem seis meses?
Como recuperar mnesicamente apenas os momentos em que houve novas humilhações por parte das mesmas pessoas?
Como perder a traquilidade quando se observa a personagem do sorriso sádico?
Como tremer por escrever este post?
Como querer apagar da memória o fatídico dia de 24 de Março de 2004?
Como voltar a reexperienciar alguns destes sintomas, anos mais tarde, por um período mais curto de tempo, e por razões diferentes, numa fase sazonal balnear na qual toda a gente parece aproveitar a ausência de trabalho para arriscar ser feliz?
Como não encontrar resposta à questão “o que é que eu fiz para ter de passar por isto?”?
Como sentir que se compreende demasiadamente bem o sofrimento de qualquer pessoa com uma depressão verídica e grave?
Como achar que ler um episódio de vida é TÃO mais fácil do que experienciá-lo?

“I've been doing research for years/
I've been practicing my ass off/
I've been training my whole life for this moment, I swear to you/
Culminating just to be this well-versed leader before you.

I’ll teach you all this in eight easy steps/
A course of a lifetime, you’ll never forget/
I'll show you how to in eight easy steps/
I'll show you how leadership looks when taught by the best.”
(Alanis Morissette, “Eight Easy Steps”)

As inscrições encontram-se abertas; serão tidos em conta os processos de grupo que possam advir por parte da dinâmica dos inscritos.

terça-feira, dezembro 12, 2006

[88 / Love Calculator (Because It All Lies Down On Statistics)]

Pensava que tinha recebido mais um daqueles e-mails que pediam para que o reenvio fosse feito para vinte pessoas, caso contrário não receberia mil vales de desconto em hipermercados Lidl… Estava enganado. Pela primeira vez conseguiram com que eu fizesse publicidade a um site proveniente de um e-mail. Provavelmente será a única.


(Because it all lies down on statistics)

quinta-feira, dezembro 07, 2006

[87 / Shine, As If It Was Truly Coming From You]

Não é muito difícil saber se uma pessoa orgulhosa ficou a pensar nas palavras que uma vez lhe expus, apesar de ter permanecido inexpressiva durante esse momento argumentativo.
Ela é facilmente apanhada a reproduzir exactamente as mesmas palavras que previamente lhe disse, como se fossem da sua autoria.