terça-feira, abril 25, 2006

[51 / Revealing The Uncountable Topographers]

Quando reparo num topógrafo nas ruas, vejo-me obrigado a procurar o outro topógrafo. É algo a que não consigo resistir. Às vezes bem tento olhar disfarçadamente para o local onde está direccionada a máquina do primeiro topógrafo, mas nem sempre consigo encontrar o segundo.

Estes episódios são fácil e especialmente transferíveis para as discotecas (I hate this word). Refiro-me a vários aspectos:
_ a facilidade com que nós próprios reparamos no interesse que temos por pessoas específicas; tornamo-nos topógrafos prontos a estabelecer contacto visual com outra pessoa;
_ a dificuldade com que a outra pessoa se apercebe que se está a tornar topógrafa: de repente nota que há alguém que olha bastantes vezes para ela, mas não consegue decifrar qual a intensidade/superficialidade do interesse da pessoa inicial;
_ a dificuldade com que conseguimos detectar outros topógrafos na discoteca.

O primeiro aspecto envolve exclusivamente a nossa atracção pessoal, pelo que não nos é nada difícil adivinhar quais seriam as nossas opções na selecção de colegas de trabalho topográfico.
O segundo, nos casos em que o alvo da selecção somos nós, pode envolver bastante coragem por parte da(s) outra(s) pessoa(s), dado que podemos aperceber-nos do interesse alheio através de métodos muito diversos. A divergência nestes métodos é da exclusiva responsabilidade da(s) outra(s) pessoa(s), dado que diferentes tipos de abordagem podem requerer níveis de coragem idênticos, consoante as pessoas. Assim, a “ousadia” de um ser humano fixar o olhar em alguém e deixar-se apanhar repetidamente nessa actividade, pode ser equivalente à ousadia de outro ser humano quando decide tentar estabelecer uma conversa, tendo como objectivo principal obter um nome ou um número de telefone. Por seu lado, alguém que arrisque um beijo, pode sentir o mesmo nível de insegurança/desconforto que a pessoa que está a tentar estabelecer o contacto visual inicial.
O último aspecto é, a meu ver, o mais interessante de todos. Ele ocorre quando nos alheamos desta nossa profissão forçada e tentamos detectar o trabalho exercido pelos outros. De vez em quando temos indícios de que amigos nossos estão interessados em alguém que está por perto, mas não conseguimos fazer ideia de quem seja, a não ser que nos digam quem é. Mas isso nem sempre acontece. E quando tentamos observar estes padrões em pessoas que não conhecemos? Torna-se tudo ainda mais complexo.
Não detectamos receios e incertezas realistas por parte dos topógrafos que estão em nosso redor. Não conseguimos encontrar os olhares cruzados, mas o facto é que eles devem estar a ocorrer durante as nossas distracções. Não avistamos a evolução dos comportamentos que a cada momento tendem a tornar-se mais notórios. Não nos apercebemos da desilusão que um gesto errado pode provocar no outro topógrafo.
Todo o trabalho parece ser feito na clandestinidade, até que de repente a interacção corporal (bem) explícita torna oficialmente visível o processo que tinha estado camuflado. Normalmente esta visibilidade só ocorre quando o comportamento é socialmente irreversível, tal como é o caso da conversa ou de um beijo.

E enquanto nos debruçamos sobre os interesses imperceptíveis das pessoas que estão ao nosso lado, não fazemos a mínima ideia do quão disseminado este fenómeno está, debaixo daquele tecto onde as pessoas dançam e se observam. Não imaginamos a quantidade e diversidade de topógrafos que nos rodeiam. Não sabemos quando é que estamos a impedir fisicamente a troca desses olhares (quer distraindo um dos topógrafos, quer colocando-nos acidentalmente entre eles os dois - é nestes momentos que nos tornamos lixo visual para os dois topógrafos que tentam a todo o custo arranjar um novo local estratégico). Nem sequer temos consciência de que se existisse um fio de conexão entre cada olhar que se cruza interessadamente, estaríamos certamente envolvidos num casulo gigante.

[50 / About The Difficult Task Of Transmitting An Intimate Insight]

Há claramente um desfasamento entre a grandeza dos insights que experiencio e aqueles que consigo veicular nas minhas frases.
Mesmo aqueles que são focados aqui, nem sempre são descritos da forma exacta como os vivencio...
Deste modo não é difícil comprovar que apesar da intimidade de alguns posts, continuarei a ser sempre aquele que melhor os conhece.

terça-feira, abril 18, 2006

[49 / Reciprocity]

É gratificante quando os gigantes dedicam algum do seu tempo a responder aos nossos elogios.

domingo, abril 16, 2006

[48 / The Very Few Deities Who Share Their Life With The Rest Of Us]

Teimo em cair no erro de glorificar caras indescritivelmente bonitas…
Há situações em que sinto pena dessas pessoas por não conseguirem rodear-se de pessoas igualmente belas. Devem olhar em volta e nada lhes deve dar interesse.
Vejo-as como autênticas ilhas isoladas e inacessíveis. Para mim é legítimo que nos desprezem.

Mas a verdade é que essas pessoas se adaptam a nós. Porque o fazem? Porque não se deixam tornar completamente independentes? Porque se adaptam às mesmas lógicas de pensamento que nós? Porque têm também de se confrontar com pessoas que não gostam delas? Como é possível que alguém não goste delas? Porque têm de viver misturadas connosco? Porque não têm a vida facilitada? Porque partilham connosco a capacidade de se tornarem reféns de críticas destrutivas? Porque respiram o mesmo ar que todos nós? Porque conseguem sentir emoções negativas? Porque comunicam connosco? Porque não são tratadas como seres superiores? Porque é que também sabem o que é a vertente prática de uma depressão? Porque procuram a felicidade em nós? Porque se deixam apaixonar por pessoas que não atingem o seu nível de beleza? Porque são forçadas a ter histórias de vida banais?
A vivência connosco parece não trazer qualquer benefício...

Só encontro uma explicação plausível: o interior não deve estar ao mesmo nível supremo que o exterior.
A verdade é que gostava de encontrar alguém que refutasse esta teoria. O meu mais puro fascínio surgiria a partir desse momento.

sábado, abril 15, 2006

[47 / Physical Attraction]

Finalmente consigo explicar o meu fascínio por olhos claros.
Descobri que o mérito não advém exclusivamente da tonalidade da íris, mas sim do facto de se conseguir observar a pupila a uma distância razoável.
É por isso que há certos tipos de olhos castanhos que também me cativam.

Falta ainda saber explicar a razão para o meu interesse recente em cotovelos...

quarta-feira, abril 05, 2006

[46 / No Barriers Imposed On Strangers]

Este semestre aprendi que a fala não é um processo automático (ao contrário do que ocorre com a leitura).
Contudo, ontem passei por uma experiência que quase abriu uma excepção a essa teoria.
Estava a caminho de casa quando de repente vejo uma cara conhecida da universidade. A cara de alguém com quem me cruzo bastantes vezes, tanto no campus, como nos bares para onde costumo ir de noite. Como se isso não bastasse, tenho também o hábito de incluir essa cara nos meus pensamentos, de tempos a tempos.

E ontem voltámo-nos a cruzar. Olhámo-nos e abri a boca. Não proferi a expressão "Olá!" porque me contive nos milésimos de segundo finais.
Não é que tivesse algum mal o facto de nos cumprimentarmos, mas seria completamente despropositado, até porque nunca nos falámos durante estes anos todos (apesar de ambos termos sido apanhados em flagrante quando de repente o Hi5 começou a enviar newsletters com as pessoas que visitam os profiles de cada um).
Aliás, até teria sido interessante ver o desenrolar da situação caso eu não me contivesse a tempo.

Pessoas que me passam pela cabeça várias vezes por semana...
É natural que quando as veja de repente, as confunda por breves instantes com as pessoas com quem lido e cumprimento habitualmente.
Silly brain !