sábado, março 25, 2006

[43 / (Not) Together]

Algures neste planeta está a pessoa por quem sempre ansiei.

És capaz de me estar a procurar neste momento, mesmo sem me conheceres. Olhas em volta mas só vês fontes de desinteresse perpétuo (pelo menos para a especificidade subjectiva dos teus gostos).
Aprisionado pela distância geográfica, eu sinto-me impotente por não poder estar aí e conseguir estabelecer a minha influência periférica. A difusão mútua das nossas influências seria tão intensa que nunca se apagaria das nossas memórias e a sentiríamos sem precisarmos de cientistas para o comprovar.

Mas vamos morrer sem nunca nos vermos. Nunca terei a imagem precisa do teu rosto. Nem tu do meu.
No entanto temos a perfeita noção de que existimos. Somos a melhor fusão que a contemporaneidade nos conseguiu arranjar.

Penso em ti a conformares-te lenta e sequencialmente às três leis que se abatem sobre todos nós. A que ser humano incompatível darás o privilégio da tua entrega?

Agora _ Eis o filtro supremo que nos limita à nascença a miríade de potencialidades amorosas. Somos obrigados a fazer a nossa selecção no âmbito da população que vive o escorrer dos nossos dias. Quem me garante que nascerá daqui a um século a personalidade que mais fascínio traria ao meu cérebro? E quem me garante que ela afinal já morreu há séculos? Terá morrido no dia em que eu nasci? Nascerá no dia em que eu morrerei?

Aqui _ O filtro que nós já conseguimos manipular, ainda que de forma muito rudimentar. Na contemporaneidade que nos invade, existirá certamente alguém que sobressai. Essa pessoa pode nem chegar ao nível impressivo obtido por “concorrentes” que a História se encarrega de nos desencontrar, mas é a ideal por entre toda a gente actual no planeta. Qual a distância a percorrer para a encontrar? Que nação defenderá? Que língua e cultura impregnam os seus pensamentos? Poderíamos viajar incansavelmente e no entanto as hipóteses de não a tocar com os olhos são estatisticamente significativas e desanimadoras.

Disponível _ O fosso em que todos caímos. Provavelmente apenas uma fatia microscópica da população mundial evita esta lei. Provavelmente essas pessoas felizes são as que preenchem hoje as lendas que percorrem as bocas do mundo. Provavelmente esses deuses e deusas mortais souberam desde o primeiro olhar cúmplice que tinham escapado às três leis, especialmente gratos por não se submeterem à infelicidade causada pela aleatoriedade intransigente da lei “agora”. Provavelmente. A lei da disponibilidade traduz-se no conformismo puro. Conformismo por nos adaptarmos às pessoas que nos rodeiam. Não ao nível da amizade, mas ao nível do amor cego e verdadeiro. Como é fácil sermos subjugados à comodidade entorpecedora desta lei. Como é fácil sucumbirmos à felicidade não-extrema. Acata-se o facto de vermos alguém minimamente interessante que passa em frente ao nosso olhar [que não deixa (nem deixará) de procurar saciar-se] e imaginamo-nos a viver com ela. Pessoa interessante? Sim! Com ligações significativas com outrem? Não. Sim. Talvez. Então procuramos entrar em cena. Seja antes do início do primeiro dos romances, ou depois do mais recente divórcio. Ascendemos na hierarquia e pensamos erradamente que a cada passo que damos, atingimos o pico. A passagem do tempo acabará por nos confirmar o que recusamos ver inicialmente. Fazemos tudo isto, completamente alheios (à excepção de alguns casos) ao pensamento que nos grita “Estás bem longe daquilo que poderias ter alcançado… Não sucumbas!”.

1 comentário:

Drèzith disse...

"Eu acho que a mulher é como o chocolate - ou goma de fruta, vá - é para ser saboreado, enquanto derrete, apreciado aos poucos e nunca trincado. Trincando, cola-se nos dentes e o sabor desaparece rapidamente.
O chocolate traz com ele um sentimento de culpa. Aliás, o chocolate é pecado! É pecado quando o temos e quando o não temos.
Mas isto é tudo uma grande treta. O que importa realmente é isto:
Se tivermos de ir à Suiça para encontrar o nico de chocolate (feito com cacau dos deuses) mais cobiçado e único, será que não desistimos sabendo que nos hipermercados Modelo-Continente temos todas as caixas de Néstle que o nosso dinheiro pode comprar? Será que escolhemos sempre o caminho mais fácil?
Na verdade, mesmo ao comprar, vamos lá pelo sabor ou pelo brinde? Pela textura ou pelo peso líquido? Compramos um chocolate mais barato porque o prazo de validade é monstruosamente superior ao chocolate dos deuses que é tão efémero, mas tão intenso, como o sabor que descobrimos?
Não podem existir caminhos fáceis. O fácil é acomodação. O difícil é inspiração, é amadurecimento."

Como me reconheço nesse post...
But she's out there, somewhere!
Cheers!