Regresso de uma viagem cansativa. Fui ver o primeiro dos concertos dos Nine Inch Nails. A expectativa deu lugar a alguma desilusão. O concerto foi, na sua maioria, um exercício de restrição física e psicológica.
Vários são os motivos (exponho alguns deles):
_ a subversão das minhas expectativas quanto aos fãs; esperava deparar-me com maiores níveis de sensibilidade e sofisticação (fui brindado com fãs que acham natural ir assistir a um concerto de Nine Inch Nails enquanto envergam t-shirts de outros grupos musicais);
_ a agressividade pronta a ser posta em prática por algumas das pessoas que estavam no recinto (“Não chegamos à primeira fila? Oh, daqui a bocado, quando isto começar e o R. começar a dar pontapés, chegamos à primeira fila e ninguém nos tira de lá!”);
_ a fluidez com que nós (fantoches, ou “pigs”, tal como o Trent Reznor legitimamente nos chamou) nos movíamos involuntariamente ao sabor dos empurrões e crowdsurfing dos fãs mais “fuck it, I don’t give a shit”; a minha atenção tanto dava primazia ao concerto como ao meu próprio equilíbrio;
_ a impossibilidade quase permanente de observar o Trent durante uns dez segundos sem ter uma cabeça de alguém mais alto a bloquear-me o campo de visão (e eu estava na terceira fila em frente ao palco…);
_ serem tocadas demasiadas músicas que incentivavam o baixo limiar de euforia dos fãs mais expansivos (quanto mais barulho, melhor); a setlist poderia conter, a meu ver, músicas mais recentes e dignas de serem ouvidas em exibição ao vivo (houve pérolas que não foram incluídas; tinha previsto uma “Right Where It Belongs” mágica e intensa, mas ela nem sequer existiu naquela noite);
_ a beleza dos efeitos visuais presentes nos concertos americanos não marcou presença no concerto português.
Muito provavelmente algo nos unia a todos os que lá estávamos: a vivência presente ou passada de uma perturbação depressiva major e a aceitação do “conforto” que as letras e a música acabam por dar. Mas para além da grande probabilidade da existência desse aspecto comum, cada vez mais me convenço de que mais ninguém foi exactamente pelos mesmos outros motivos que eu.
Não sei até que ponto o Trent se sente representado por esta amostra de fãs que não se importa em dar um maior fôlego a quem gosta de entiquetar os estilos musicais… Porque aquilo a que eu assisti não foi a obra de um génio ser elevada até ao posto que lhe está reservado. O que eu vi foi uma reprodução ao vivo do rock que existe na memória de qualquer pessoa que já tenha assistido a um concerto desse estilo musical (nem que seja através dos media). E o Trent diz “I don't even like rock that much…”. Então porquê um concerto de rock? Havia tanto por onde escolher para a setlist. Porquê escolher o caminho mais fácil e mais despoletador de euforia nos fãs que o admiram por ser mais um facilitador de headbangs?
Talvez um dia venha a sabê-lo…
Vários são os motivos (exponho alguns deles):
_ a subversão das minhas expectativas quanto aos fãs; esperava deparar-me com maiores níveis de sensibilidade e sofisticação (fui brindado com fãs que acham natural ir assistir a um concerto de Nine Inch Nails enquanto envergam t-shirts de outros grupos musicais);
_ a agressividade pronta a ser posta em prática por algumas das pessoas que estavam no recinto (“Não chegamos à primeira fila? Oh, daqui a bocado, quando isto começar e o R. começar a dar pontapés, chegamos à primeira fila e ninguém nos tira de lá!”);
_ a fluidez com que nós (fantoches, ou “pigs”, tal como o Trent Reznor legitimamente nos chamou) nos movíamos involuntariamente ao sabor dos empurrões e crowdsurfing dos fãs mais “fuck it, I don’t give a shit”; a minha atenção tanto dava primazia ao concerto como ao meu próprio equilíbrio;
_ a impossibilidade quase permanente de observar o Trent durante uns dez segundos sem ter uma cabeça de alguém mais alto a bloquear-me o campo de visão (e eu estava na terceira fila em frente ao palco…);
_ serem tocadas demasiadas músicas que incentivavam o baixo limiar de euforia dos fãs mais expansivos (quanto mais barulho, melhor); a setlist poderia conter, a meu ver, músicas mais recentes e dignas de serem ouvidas em exibição ao vivo (houve pérolas que não foram incluídas; tinha previsto uma “Right Where It Belongs” mágica e intensa, mas ela nem sequer existiu naquela noite);
_ a beleza dos efeitos visuais presentes nos concertos americanos não marcou presença no concerto português.
Muito provavelmente algo nos unia a todos os que lá estávamos: a vivência presente ou passada de uma perturbação depressiva major e a aceitação do “conforto” que as letras e a música acabam por dar. Mas para além da grande probabilidade da existência desse aspecto comum, cada vez mais me convenço de que mais ninguém foi exactamente pelos mesmos outros motivos que eu.
Não sei até que ponto o Trent se sente representado por esta amostra de fãs que não se importa em dar um maior fôlego a quem gosta de entiquetar os estilos musicais… Porque aquilo a que eu assisti não foi a obra de um génio ser elevada até ao posto que lhe está reservado. O que eu vi foi uma reprodução ao vivo do rock que existe na memória de qualquer pessoa que já tenha assistido a um concerto desse estilo musical (nem que seja através dos media). E o Trent diz “I don't even like rock that much…”. Então porquê um concerto de rock? Havia tanto por onde escolher para a setlist. Porquê escolher o caminho mais fácil e mais despoletador de euforia nos fãs que o admiram por ser mais um facilitador de headbangs?
Talvez um dia venha a sabê-lo…
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