Numa aula relativamente recente ouvi uma colega de curso desabafar a uma amiga em baixo volume que "já passei por más experiências que não desejo ao meu pior inimigo”.
Sorri ao ouvir aquilo.
Sorri, não de felicidade. Sorri, confesso, de uma leve ironia. Não é que não respeite o sofrimento que ela alega ter passado (e que eu não faço ideia de qual a especificidade contextual que o despoletou). Qualquer sofrimento merece o seu respeito.
A minha falta de apreço pela afirmação deve-se ao facto de ela provir de alguém cujo comportamento é incompatível com o conteúdo das palavras que proferiu. Alguém que não age na maioria das vezes com conscienciosidade social não revela grande respeito pelos outros. Alguém que interrompe sistematicamente conversas recorrendo a um maior número de décibeis, arrisca-se a decapitar a reputação silenciosa que lhe tenho confiado até àquele momento. Alguém que claramente avança e pára em frente a outra pessoa que já lá estava, dando-lhe o privilégio de ver as suas costas ao pormenor, desilude qualquer vítima (oh, quantas vezes isso se vê em grupos que dançam nos bares e que de repente se fecham à frente dos outros num abrir e fechar de olhos, e oh, que costas lindas, e oh, quantas vezes se dá um passo em frente para a reinserção, e oh, o fenómeno volta a ocorrer momentos mais tarde, e oh, há sempre um pequeno grupo fixo de pessoas a quem isto nunca acontece, e oh, isto não ocorre apenas debaixo de tectos musicais, e oh, o que estará a pessoa prejudicada a pensar nesses precisos momentos?).
Sobrevalorizam-se as pessoas que se manifestam exaustivamente. As que se auto-promovem sem fundamento aparente. As socialmente atenciosas e simpáticas (o reforço pode espreitar a qualquer esquina, não é verdade?). As que adquirem o sorriso plástico pronto a ser exibido em qualquer ocasião. As que retiram esse mesmo sorriso quando já não está por perto alguém a quem lhes interessa passar a imagem de que conhecem metade dos habitantes deste mundo. As que absorvem ilegitimamente as atenções. As que fazem sentir que os outros são um marasmo. As que manipulam as actividades ao sabor dos seus caprichos. As que vêem as suas vontades efémeras serem temporariamente saciadas pelos outros. As visivelmente dinâmicas. Seja lá o que isso for. Independentementemente da produtividade oca que isso fornece ao mundo. Porque aparentemente o mundo não sobrevive sem espectáculo.
Como se estas palavras fossem mudar alguma coisa...
Como se a minha opinião silenciosa interessasse...
Sorri ao ouvir aquilo.
Sorri, não de felicidade. Sorri, confesso, de uma leve ironia. Não é que não respeite o sofrimento que ela alega ter passado (e que eu não faço ideia de qual a especificidade contextual que o despoletou). Qualquer sofrimento merece o seu respeito.
A minha falta de apreço pela afirmação deve-se ao facto de ela provir de alguém cujo comportamento é incompatível com o conteúdo das palavras que proferiu. Alguém que não age na maioria das vezes com conscienciosidade social não revela grande respeito pelos outros. Alguém que interrompe sistematicamente conversas recorrendo a um maior número de décibeis, arrisca-se a decapitar a reputação silenciosa que lhe tenho confiado até àquele momento. Alguém que claramente avança e pára em frente a outra pessoa que já lá estava, dando-lhe o privilégio de ver as suas costas ao pormenor, desilude qualquer vítima (oh, quantas vezes isso se vê em grupos que dançam nos bares e que de repente se fecham à frente dos outros num abrir e fechar de olhos, e oh, que costas lindas, e oh, quantas vezes se dá um passo em frente para a reinserção, e oh, o fenómeno volta a ocorrer momentos mais tarde, e oh, há sempre um pequeno grupo fixo de pessoas a quem isto nunca acontece, e oh, isto não ocorre apenas debaixo de tectos musicais, e oh, o que estará a pessoa prejudicada a pensar nesses precisos momentos?).
Sobrevalorizam-se as pessoas que se manifestam exaustivamente. As que se auto-promovem sem fundamento aparente. As socialmente atenciosas e simpáticas (o reforço pode espreitar a qualquer esquina, não é verdade?). As que adquirem o sorriso plástico pronto a ser exibido em qualquer ocasião. As que retiram esse mesmo sorriso quando já não está por perto alguém a quem lhes interessa passar a imagem de que conhecem metade dos habitantes deste mundo. As que absorvem ilegitimamente as atenções. As que fazem sentir que os outros são um marasmo. As que manipulam as actividades ao sabor dos seus caprichos. As que vêem as suas vontades efémeras serem temporariamente saciadas pelos outros. As visivelmente dinâmicas. Seja lá o que isso for. Independentementemente da produtividade oca que isso fornece ao mundo. Porque aparentemente o mundo não sobrevive sem espectáculo.
Como se estas palavras fossem mudar alguma coisa...
Como se a minha opinião silenciosa interessasse...