terça-feira, maio 09, 2006

[53 / The Privilege Of Being Given The Chance To Experience A Rushed Heartbeat]

Habituamo-nos tanto à inexistência de relações interpessoais com estranhos que por muito que esse relacionamento seja desejado, simplesmente não encontramos meio de fazer com que ele surja.
No entanto, muitas das vivências que temos são partilhadas com algumas pessoas que por acaso nada nos transmitem. É um paradoxo. Sim. É. Somos forçados a falar com aqueles que pouco nos dizem e forçados a não estabelecer contacto com quem nos transmite uma imagem cativante, mas oficialmente distante. Não há nada que faça com que os nossos caminhos se cruzem e nos levem a ter uma troca de palavras espontânea.
É por isso que aceitamos com grande satisfação cada pequena oportunidade de ficarmos a conhecer mais pormenores sobre as pessoas que secretamente seleccionamos. É por isso que reconhecemos com maior rapidez aquelas faces. É por isso que nos sentimos mais agitados quando estamos em frente a essas faces. É por isso que pensamos nelas frequentemente. É por isso que não queremos acreditar que finalmente chegou o tão aguardado momento de sermos confrontados com a descoberta do profile de uma delas. É por isso que o coração bate descontroladamente quando nos apercebemos de que vamos ser brindados com a informação pessoal dessas pessoas. É por isso que não descansamos enquanto não devorarmos toda a informação que essas pessoas transmitem no profile. É por isso que temos a ânsia de ver/guardar todas as fotos adjacentes. É por isso que tentamos arranjar ideias para fazer com que essas pessoas também se apercebam de que nós próprios temos um profile pronto a ser lido.
É um abanão intenso.


Sentimos verdadeiramente o privilégio de nos conseguirmos "aproximar" daquelas pessoas especiais que infelizmente nos habituamos a ver de perto ao nível geográfico, mas de longe ao nível interactivo. De repente deixam de habitar o mundo dos nossos pensamentos para aparecerem sem aviso prévio no nosso ecrã.
Conseguimos, por momentos, sentir que deixaram de ser tão incógnitas. Aceder àquela imagem física que sempre quisemos ter à nossa frente a qualquer hora. Rever essas faces através de um ponto de vista incrivelmente próximo. Ouvir-lhes o fervilhar das ideias. Ver aquele olhar estático mas intenso a fixar o nosso. Tocar-lhes na pele a que agora temos acesso visual e intemporal. Sentir-lhes a respiração. Apreciar o beijo silencioso.
Tudo isto de uma forma virtual…

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