domingo, agosto 27, 2006

[74 / Yin / Yang]


This is one of my favourite photos. I'm addicted to experimental photography, so I always try to take some "borderline" pictures and post the selected ones on my personal fotolog. It somehow represents my openness to diversity and creativity, and I expect others to be open-minded as well.
I remember being really impressed when I just saw the preview of this picture I had just taken on my digital camera (it was taken that way; no software was used).
There's not really a rational reason for me to like it. The image speaks for itself. I like the visual content of it. I gave it the title [Yin / Yang].

João Gil Martins
Portugal

sexta-feira, agosto 25, 2006

[73 / About The Growth That Resilience Brings]

É gratificante olhar para trás e ver o túnel que nos fez crescer. Mas atravessá-lo custa tanto...

quinta-feira, agosto 10, 2006

[72 / To An Unknown Lover]

Numa noite em que o vento teime em permanecer ausente, e o calor se lembre de me agasalhar, irei a uma praia.
A escuridão não constitui problema porque a lua cheia serve-me de lanterna natural.
Avanço pelo areal, com passos lentos mas decididos, saboreando a beleza natural daquele momento mágico que a atmosfera me proporciona. Sento-me. Fico atraído pela conjugação estonteante do calor nocturno, ar estático com fluidez invisível, ausência de sons incómodos, imobilidade da massa líquida a que as pessoas chamam de “oceano” (nem uma única onda, naquilo a que eu poderia denominar de “lago oceânico”). A água, sim, a água; esse manto negro (sempre foste um camaleão fiel ao céu cuja cor reflectes) que silenciosamente abriga seres vivos cuja visão do mundo em nada se assemelha à dos que vivem acima da superfície. Não iria certamente reparar em nenhum deles numa noite tão mágica como esta. A minha atenção seria exclusivamente focal; era tempo de abdicar da atenção difusa que iria perturbar este momento único. Todas as distracções seriam postas de parte.
Neste exercício de concentração retomo a essência de quem sou e esqueço todas as bárbaras provas a que fui submetido ao longo da vida, cujo objectivo (explícito ou implícito) se traduz em derrubar a crença e o gosto na maturidade intra e interpessoal. Sinto-me preparado para a purificação.
Levanto-me e continuo a seguir o caminho que tinha sido interrompido para poder apreciar dignamente a Natureza que compõe aquela praia. Fortaleço-me a cada passo, mas o processo não está ainda completo. Paro no momento oportuno. Prestes a atravessar a fronteira. Um pequeno passo. Transponho-a. Não sinto nenhuma diferença de temperatura quando a minha pele humedece. Nesse preciso momento começo a ouvir uma música sublime. Quem a conhecesse diria “Where It Belongs – Nine Inch Nails”.
Não contenho a força da emoção. Uma lágrima deverá cair nesse preciso momento. A verticalidade da gravidade delimita o seu breve percurso, fazendo com que se misture com a água salgada que os meus sapatos pisam. É uma lágrima que agora pertence à vastidão líquida que tanto nos dá vida como também nos afoga. Fico feliz por dar o meu contributo orgânico à Natureza. Uma parte de mim subsiste agora na deriva tranquila da água que percorre os cantos do mundo.
É a hora. Avanço novamente. Embrenho-me lentamente na água. A roupa que visto começa a adquirir uma tonalidade mais escura à medida que é molhada. Afasta-se do meu corpo. Volta a acariciar-me. Gosto da vida que parece ter.
Abdico das desilusões a cada centímetro submerso do meu corpo. Lavo-me da banalidade. Decapito as memórias de maltrato, quer por via da negligência quer por via do abuso psicológico. Derrubo as vulnerabilidades que me fizeram refém após uma infância deliciosa. Apago as frustrações de não alcançar aquilo que eu poderia ter sido.
Tudo é absorvido e aniquilado com mestria pelo oceano. Vou dando voz à pessoa que sempre quis expor.
Pouco falta até ter a ponta do meu último cabelo seco rodeada de H2O. Em dois segundos ela afunda-se juntamente com o resto do corpo que ele incorpora. A música passa a ser ouvida esbatidamente. Sinto o abraço que simbolicamente dou a mim mesmo. Tenho uma experiência de ponto máximo que apenas é testemunhada pelos organismos subaquáticos que por acaso lá se encontram. A purificação surge.
Os pulmões pedem-me que lhes devolva o oxigénio. Encontro-me em estado de transição; este momento libertador não pode durar muito tempo. Forçosamente dou ímpeto ao impulso de estender as pernas e voltar a posicionar a boca à superfície. Sinto-me grato pela inspiração. Coloco a face acima do nível da água. Volto a ouvir a música em perfeitas condições.
Regresso purificadamente ao areal e ao mundo oxigenado de onde pertenço.
Vejo-te à minha espera. Sento-me ao teu lado após me ter embrulhado na toalha que me ofereces. Ficamos os dois parados a contemplar a beleza daquele momento que não queremos desperdiçar. Observamos a passagem fugaz de várias estrelas cadentes. O tempo passa indeterminadamente enquanto pensamos na presença constante um do outro. Deixo de apresentar vestígios de humidade. Encostamos as nossas testas e inspiramos ao mesmo tempo que sorrimos de olhos fechados. A música cessa. Os nossos ouvidos captam o som ténue da nossa respiração sincronizada. Sozinhos naquele mundo que é só nosso. Juntos numa cumplicidade que o mundo alguma vez vira.
Segredas-me ao ouvido as palavras mais belas que alguma vez ouvi. Levantamo-nos e contemplamos os nossos olhares. Sinto o toque quente dos teus dedos e unimos as mãos. Os meus polegares afagam as costas das tuas mãos. A música regressa.
Ficamos com o olhar estático, lendo a pureza interior que ambos recebemos. Inspiro a tua expiração próxima. Expiro o ar que é inspirado por ti. A distância física reduz-se. As faces tocam-se ao nível dos lábios. A distância parece continuar a ser esmagadora, pelo que nos aproximamos ainda mais. O beijo é intenso. O abraço permanente que tinha dado a mim mesmo anteriormente torna-se ainda mais forte quando sinto o teu. Sentes exactamente o mesmo quanto ao meu gesto recíproco.
Mantém-se o beijo avassalador debaixo da cumplicidade do luar e do crepitar silencioso das estrelas incandescentes. Separamos as bocas enquanto mantemos o olhar fixo em nós.
Ambos ouvimos um pequeno baque previsível. Sabemos o que está a acontecer.
O pensamento começa a divulgar a uma velocidade estonteante todas as memórias adquiridas ao longo de uma vida. Percebo que o mesmo se passa contigo. É o momento de nos despedirmos daquilo que fomos. Começam a escassear as identidades de todos aqueles que interagiram connosco previamente. São demolidas todas as pontes que nos levem a pensar em terceiros. Não há qualquer tipo de apreensão pela aquisição desta amnésia selectiva. A redenção espera-nos. Os nossos olhares cruzados mantêm-se tranquilos. Somos só tu e eu.
As luzes da civilização começam a afastar-se apesar de permanecermos imóveis. A felicidade invade-nos. Estamos a alcançar a grandeza que desejávamos. Temos uma área grande de solo que nos quer acompanhar.
Quanto tempo levaria até a novidade ser descoberta por um transeunte? Quanto tempo iriam durar as buscas infrutíferas de nós? Isso não é relevante neste momento.
Voltamos a abraçar-nos, orgulhosos por podermos ter todo o tempo que quisermos para exercitarmos a nossa intimidade.
É esta a beleza da derradeira noite em que da costa portuguesa se desprende um pedaço considerável de terreno; ilha à deriva legitimamente usufruída por dois seres humanos que subsistem com a sua presença mútua. A noite em que um novo país secreto se forma, habitado por duas pessoas apaixonadas.

Falta-me a dura parte: ser encontrado. Por onde vagueias?

sexta-feira, agosto 04, 2006

[71 / Unselected Text!]

O meu texto não integra a miríade seleccionada pela Alanis Morissette.
Todos os meses ela escolhe um tema e pede às pessoas para que lhe escrevam acerca desse tema. Como é hábito, a beleza do seu interior faz com que ela aborde perspicazmente assuntos que façam com que as pessoas falem de coisas bastante pessoais.
Senti-me impelido a ir de encontro ao apelo de Julho, cujo tema é "What was one of your biggest turning points in your life - and did you have a revelation from it?".
Algumas das histórias que ela recebeu foram publicadas aqui, na secção Thank U do site dela.

P.S. - O desafio de Agosto pede para enviarmos a nossa foto preferida e explicar o porquê da nossa escolha. ;)

terça-feira, agosto 01, 2006

[70 / Dear John]

Poucas horas faltam para abandonares definitivamente a idade de ouro.
Vais passá-las estupidamente a dormir. Bem sei que já não há privilégios relevantes adquiridos quando se alcança/ultrapassa o vigésimo segundo ano de vida, mas é algo a que terás de te habituar.
Uma vez mais vais querer acordar momentos antes das oito da manhã para te veres ao espelho e imaginares a sala do hospital onde há anos atrás foste confrontado pela primeira vez com a luz solar. Sala essa que os teus pais já não sabem identificar; apenas sabem indicar o corredor. Talvez nunca chegarás a saber ao certo que paredes testemunharam o teu nascimento.
É interessante fazeres a retrospectiva de uma jovem vida durante breves minutos. Analisares o percurso com trilhos ambiguamente decadentes e sublimes que foste forçado a percorrer. Veres o reflexo do teu aspecto físico e conversares mentalmente com a pessoa que os teus olhos observam. Chamares a criança feliz que houve em ti e confrontá-la com o resultado final de uma viagem ao mundo subterrâneo da condição humana. Ambos estranhamente donos do mesmo corpo… Mas irreconhecíveis interiormente.
É tarde para te salvar do teu passado. Será tarde para o meu eu futuro me salvar do meu futuro próximo. As máquinas do tempo ainda não estão disponíveis, nem acredito que algum dia estarão, senão já teríamos sido abordados pelos nossos descendentes. Gostava de te ter podido ajudar quando precisaste, João. Tenho a certeza que o meu eu futuro dirá o mesmo quanto à avalanche de acontecimentos que eu ainda não sei que irão ocorrer.
Não gostei de ver o teu estado nestes últimos dias; parecias disposto a abandonares-te. Não voltes a descer essa gruta. Ainda te vejo a colmatar as fendas do terramoto que te assolou recentemente.
Tenta cimentar as tuas crenças com as ferramentas que possuis. Só assim conseguirás manter a sanidade mental.
Espero ver-te com mais confiança daqui a um ano. Gostava de te assegurar de que poderás estar tranquilo acerca do teu mundo externo, mas isso é-me impossível de controlar.
Desejo-te os mais felizes dos acasos.
Despeço-me aqui, João.
Um abraço.