terça-feira, fevereiro 27, 2007

[97 / Our Self-Trapped Brains Which Tendencially Just Show The Superficial Part Of Themselves, Ending Up Meeting Repeatedly The World's Boredom]

Imagino-te. Sobrevalorizo-te. Idealizo-te. Sonho-te. Reforço-te. Enalteço-te. Profetizo-te.
Procuro-te.
Desencontro-te.

Não existes no meu mundo social. Não te sei ver. Não te sei ler. Não te sei.
Existes no meu mundo social? Então porque não te vejo? Porque te escondes? Porque não me conheces? Porque não tens acesso à minha essência? Porque sucumbimos ao terror da solidão emocional?
Não existes no meu mundo social. Apenas no meu mundo imaginário; naquele mundo em que as facilidades são uma constante e o festival rotineiro da proximidade física em contingência com a distância emocional é abolido impiedosamente; naquele mundo tão silencioso e intransmissível que facilmente se evapora quando sente a presença da curiosidade irresponsável do mundo externo.

Evaporo-te. Condensas-te. Quero solidificar-te. Gaseificas-te.
Ambos peões neste jogo da supressão do íntimo.
Um exercício de vazios.

Tento conformar-me à tua presença etérea frágil; à tua inexistência no mundo dos lábios que se tocam, dos olhos que se humidificam, das respirações que se aceleram, dos cérebros que se inundam de serotonina.

Não existes no meu campo visual. Ou será que existes?
Alcanço-te? Ignoro-te? Venero-te? Afasto-te?
Perguntas sem resposta.

Tens tanto para oferecer(-me). Será tão pouco o que verei.
O que verás de mim? O que verei de ti? Apenas o teu movimento: aquilo que o teu cérebro me irá mostrar; aquilo que irás ver de mim; aquilo que os nossos sistemas nervosos mostrarão ao mundo, ignorando as consequências nefastas de guardarem para si próprios a actividade mental que nos permitiria descobrir a beleza da nossa consistência.
Tanta actividade cerebral nobre posta em prática e no entanto apenas uma parte banal é deliberadamente exteriorizada.

Quando te encontrarei, cérebro sublime? Quando te mostrarás na tua globalidade?

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

[96 / Frustration #2]

Involuntariamente faço parte do grupo maioritário dos resultados deste referendo. Sim, fui forçado a integrar a percentagem da abstinência.
A indisponibilidade não-crucial dos meus pais para me transportarem de Braga a Viana (após um concerto cansativo que me impediu de me ajustar aos horários dos transportes públicos domingueiros) é algo que nunca esquecerei. Algo que não será facilmente desculpável. O embaraço é mais notório ainda, sendo eu um ex-estudante de Sociologia.
Espero que esta seja a única mancha no meu “currículo político” como cidadão activo no processo de mudança de uma população que gosta de criticar exaustivamente todas as coisas que observa e que aprecia a lentidão extrema da evolução das mentalidades neste canto geográfico.

Pelo menos ninguém me impediu de aplaudir e de sentir um arrepio de alegria quando vi que o “Sim” ganhou.
Queria tanto que o meu voto tivesse sido contabilizado...

[95 / Frustration #1]

Regresso de uma viagem cansativa. Fui ver o primeiro dos concertos dos Nine Inch Nails. A expectativa deu lugar a alguma desilusão. O concerto foi, na sua maioria, um exercício de restrição física e psicológica.

Vários são os motivos (exponho alguns deles):
_ a subversão das minhas expectativas quanto aos fãs; esperava deparar-me com maiores níveis de sensibilidade e sofisticação (fui brindado com fãs que acham natural ir assistir a um concerto de Nine Inch Nails enquanto envergam t-shirts de outros grupos musicais);

_ a agressividade pronta a ser posta em prática por algumas das pessoas que estavam no recinto (Não chegamos à primeira fila? Oh, daqui a bocado, quando isto começar e o R. começar a dar pontapés, chegamos à primeira fila e ninguém nos tira de lá!);

_ a fluidez com que nós (fantoches, ou “pigs”, tal como o Trent Reznor legitimamente nos chamou) nos movíamos involuntariamente ao sabor dos empurrões e crowdsurfing dos fãs mais “fuck it, I don’t give a shit”; a minha atenção tanto dava primazia ao concerto como ao meu próprio equilíbrio;

_ a impossibilidade quase permanente de observar o Trent durante uns dez segundos sem ter uma cabeça de alguém mais alto a bloquear-me o campo de visão (e eu estava na terceira fila em frente ao palco…);

_ serem tocadas demasiadas músicas que incentivavam o baixo limiar de euforia dos fãs mais expansivos (quanto mais barulho, melhor); a setlist poderia conter, a meu ver, músicas mais recentes e dignas de serem ouvidas em exibição ao vivo (houve pérolas que não foram incluídas; tinha previsto uma “Right Where It Belongs” mágica e intensa, mas ela nem sequer existiu naquela noite);

_ a beleza dos efeitos visuais presentes nos concertos americanos não marcou presença no concerto português.

Muito provavelmente algo nos unia a todos os que lá estávamos: a vivência presente ou passada de uma perturbação depressiva major e a aceitação do “conforto” que as letras e a música acabam por dar. Mas para além da grande probabilidade da existência desse aspecto comum, cada vez mais me convenço de que mais ninguém foi exactamente pelos mesmos outros motivos que eu.

Não sei até que ponto o Trent se sente representado por esta amostra de fãs que não se importa em dar um maior fôlego a quem gosta de entiquetar os estilos musicais… Porque aquilo a que eu assisti não foi a obra de um génio ser elevada até ao posto que lhe está reservado. O que eu vi foi uma reprodução ao vivo do rock que existe na memória de qualquer pessoa que já tenha assistido a um concerto desse estilo musical (nem que seja através dos media). E o Trent diz “I don't even like rock that much…”. Então porquê um concerto de rock? Havia tanto por onde escolher para a setlist. Porquê escolher o caminho mais fácil e mais despoletador de euforia nos fãs que o admiram por ser mais um facilitador de headbangs?
Talvez um dia venha a sabê-lo…